sábado, 24 de julho de 2010

Tiruvananmalai, uma India mais terrena.

Contratamos um carro para nos levar a Tiruvananmalai. Levou 4 horas para chegarmos até lá. Deixamos as malas no hotel, tomamos um banho de balde básico, trocamos de roupa e fomos direto para o templo de Shiva. Só um pequeno parêntese aqui para explicar que para quem não sabe, a India hinduísta possui vários deuses. Shiva é um deles, e ela é o deus do amor e não possui sexo, ou seja, não é homem, nem mulher. É um deus bem popular e venerado que observando-o parece uma mulher sentada meditando. Outro deus popular lá na India é o Ganesh que tem a forma de um elefante sentado e meditando também. Outra curiosidade interessante é que lá todos meditam, tanto hindus quanto católicos. Isso faz parte da rotina indiana assim como tomar banho todos os dias faz parte da nossa rotina. (Bem, pelo menos para alguns hehehe!) Voltando ao templo de Shiva, pegamos um tuc tuc no hotel que nos levou até lá. A medida que chegávamos perto do templo, mais a minha feição mudava. O templo é enorme e lindo mas muito sujo. Para eles a terra em volta e dentro do templo é sagrada, portanto tem que se andar descalço. Para eles cuspir na rua é uma coisa comum e andar descalço nesta mesma rua também. Em volta do templo é cheio de mercado e as ruas são entupidas por pessoas, carros e motos andando desgovernadamente. A tia ainda me convenceu de colocar uma roupa indiana que por onde eu passava as pessoas me olhavam porque basicamente eu era a única diferente no local. Até pedir para o meu pai para tirar foto comigo eles pediram. No templo eu tinha que entrar descalça. Ai meu Deus! Eu realmente não queria fazer isto. Mas fiz. Entrei. Descalça. E ainda andei o templo todo! Eu não queria olhar para o meu pé. Mas vamos ao templo: É uma construção aberta e fechada em 10 hectares de terra. Em todo lugar que você vai tem imagens dos deuses indianos. Junto com os deuses tem um foguinho, que os fiéis passam a mão como se eles fossem jogar o calor do fogo neles próprios e tem umas cinzas que eles colocam na mão, na testa e e alguns colocam até na língua. Observar este ritual foi bem interessante. Perceber o que diferencia uma cultura da outra ou até o que é mais significativo para determinados povos. Tentar entender não basta. Vivenciar é uma forma de chegar mais perto deles mas também não é suficiente para entender. É uma lógica diferente e que para estar ali é preciso se abster dos pré conceitos e observar. Em vários momentos me senti nauseada ou cansada com toda aquela confusão que para eles é normal, rotineira. Em vários momentos eu quis voltar para o hotel achando que eu não iria dar conta. Mas como em todo caos tem uma lógica, no caos oriental eu encontrei esta lógica ocidental bem científica por sinal. Observar, experienciar, vivenciar, o que tem sentido para eles e depois ir correndo para o hotel para respirar, absorver, elaborar e registrar o momento vivido.






Fotos: Acima, algumas fotos do templo de Shiva, eu com a roupa de indiana e descalça. Reparem nas flores do cabelo. As indianas usam muito e fica lindo!






sexta-feira, 9 de julho de 2010

Um aprendizado, uma inspiração.

Durante a nossa estada em Kochi, tivemos o prazer de conhecer uma família de indianos um tanto não convencional. Eu e minha tia (irmã do meu pai que foi nossa guia nesta viagem) estávamos passeando na cidade e resolvemos entrar em uma pequena agência de turismo para conhecer os passeios ofertados. O indiano que nos atendeu, muito simpático, gostou da gente e nos convidou para ir ao hotel dele no final da tarde que ele iria nos contar uma história. Ele nos contou a história da vida dele: Ele é de uma família católica simples e sua esposa é de uma família hindu rica. Eles se conheceram, se apaixonaram e namoraram em segredo durante um tempo. Quando a família dela descobriu, eles a proibiram de vê-lo e a colocaram na sala de castigo da casa (uma sala que fica no meio da casa, vigiada 24 horas pelos homens da casa) sem que ela pudesse sair durante umas duas semanas. Ele não teve notícia dela por uns 3 meses e neste tempo ela convenceu seu pai que tinha o esquecido e gostaria de trabalhar em outra cidade. O pai dela permitiu, mas a manteve vigiada por mais uns 3 meses e ela realmente se comportou. Quando sua família abaixou a guarda achando que ela tinha realmente o esquecido, ela ligou para ele e disse que pecisava vê-lo. Eles começaram a se encontrar em uma cidade vizinha da qual ela trabalhava. Em menos de 1 mês eles casaram. Ela foi morar com a família dele e os pais dela ficaram sabendo do casamento por um jornal que tinha algumas fotos da festa. Segundo ele, isso foi muito vergonhoso para os pais dela perante à sociedade e depois deste ocorrido eles não se comunicam. Eles têm uma linda filha de 11 meses, ou seja, os pais dela têm uma linda netinha de 11 meses, a qual nunca procuraram... Percebi que eles sofrem muito com a separação das famílias mas são um casal muito feliz! Perguntei como eles fizeram em relação à religião da filha e ele me respondeu assim: "Ela foi batizada no catolicismo e no hinduismo, e quando ela crescer ela poderá escolher qual religião seguir!" Eu ainda não acreditava que estava ali, na India, com uma família inesperada, disposta a quebrar tabus em favor da sua felicidade, da sua liberdade, do seu amor... Adorei! E o mais impressionante é que com toda esta situação, esta família me transmitiu uma tranquilidade infinita de quem estão em paz com as decisões que tomaram até neste momento de suas vidas.
Obs: Quem quiser ver as fotos do casal vão ter que vir aqui em casa, pois eu não peguei autorização da família para publicá-las. Está feito o convite!